Tua lembrança (21.06.11)

Já não suporto mais... Quanta tristeza!
O chão sente meu corpo e não meus pés...
Vejo a melancolia ir através
Dos teus olhos cansados, sem certeza...

Tentei mostrar a ti toda a beleza
Presente na rotina das marés;
Ouvindo atentamente, com clareza
Perceberás o som dos oboés...

É triste ouvir a música que sentes,
Que mostra como tu deveras mentes.
É impossível não sofrer assim...

Saber que a merencória pulsação
Do teu inofensivo coração
Bate por ela ainda e não por mim...

Victória Freitas
Intacto (06.04.2011)

Sustentas a cruel verdade que criaste
De que seguir não quer teu corpo junto ao meu...
Repara como é triste o céu... Adoeceu
Por ver o nosso Amor cair. E tu juraste

Flores no meu caminho, estrelas... Quem sofreu
Foi minha alma, mortinha... E que tudo isto baste,
Para que eu morra em paz, tal qual minh'alma. Erraste
Ao ver meu peito vivo a palpitar... Morreu!

Pensas que teu descaso é fruto do costume
De estar sempre comigo, a acompanhar o lume
Que de meus pés brotava, angústia, impaciência...

Mas sabes que eu te amo e por isso desprezas
O Amor que te envolveu em ramos de belezas,
Que já agoniza em pranto e é pleno de dolência...

Victória Freitas
Recado (23.03.2011)

Diz, passarinho... Diz-me o que tu queres
Vindo acordar-me todas as manhãs!
Ao menos fica, quando tu vieres;
Não fujas pr'a voltar nos amanhãs...

Canta-me o que é que fala teus dizeres;
Faz valer mais teus tépidos afãs...
Se queres alertar-me sobre os seres,
As cobras, as mordidas, as maçãs,

Espera até que eu abra os olhos, fica!
Tua visita é certo que aurifica
Os segundos que vens criar meu dia...

Quero saber, oh, pássaro que voa
Furtivamente ao canto que te entoa,
Se és os recados de quem não me envia...

Victória Freitas
Tua loucura (03.03.2011)

Todas as noites quem meu sonho habita,
Transita solitário por meu peito,
O dono do teatro mais perfeito
Encenado entre a noite, tão bonita,

És tu, embora raro que eu admita
Tua presença, logo que me deito,
Princípio do meu sono satisfeito,
Razão de meus poemas, minha escrita...

Como podes ter dúvidas ainda,
Se todo Amor que tenho é todo teu,
Se és tu que por completo me achas linda?


Põe tua esperança em nossa história...
Sonha comigo, Amor, que o peito meu
Desfaz tua loucura ilusória.

Victória Freitas
Interrupção (28.02.11)

Esquece, por favor, a minha arte incompleta.
Arte pretensiosa, arte que nada vale...
Nunca serei poeta e, mesmo que eu me cale,
Os versos que escrevi, a palavra indiscreta,

Inda valerão nada em meu resto de vida...
É então que chega ao fim meu lúgubre discurso,
Fadado desde a estréia a perecer no curso;
Indômito destino, hora da despedida...

Esquece, por favor, a minha arte incompleta...
Por meus pecados, nunca eu morrerei poeta;
Meu sonho se acabou co' a tinta em sequidão.

Quando o primeiro verso inda tinha esperança,
Viu num dos versos teus a minha insegurança,
Tu morrerás poeta e, infelizmente, eu não...

Victória Freitas
Mortal (26.01.11)

Eu perguntei à minha mãe um dia,
Debaixo de uma árvore de figos,
Por que mentiam tanto meus amigos...
E ela me disse, com sabedoria:

_Imagine, meu anjo, uma alegria
Enorme à tal maneira dos antigos...
E, sem que tu esperasses, inimigos
Invadissem teu lar, tua moradia...

_Mas, que tem isso a ver, mamãe? Diz logo...
_Não tivesse isso acontecido, o fogo
Alegre não iria se apagar...

Mentindo, algo inda triste não destrói...
De fato, é que a Verdade sempre dói,
Meu filho, e, às vezes, pode até matar...


Victória Freitas
Súplica (08.01.11)

Peço que ouçais, meu Deus, a minha prece:
Não deixeis esse Amor ter sido em vão;
Ajudai-me a curar um coração
Em descrença abastado... Se anoitece,

Cada noite que passa me entristece,
Por ser próximo o fim, sem solução...
Àquela alma, Senhor, peço perdão,
Que ela este mau destino não merece.

Peço que este Amor puro ainda cresça,
Embora, Pai, mesmo ele não mereça
Ser condenado a andar com a distância...

No futuro, esta Dor seja esquecida...
Não deixeis este agror dar fim à vida
Do Amor que ainda vive a sua infância...

Victória Freitas
Telepatia (17-12-2010)

Quando chegar a tarde e o Sol poente
Se ocultar no horizonte, dando adeus,
Lembra que o Sol é criação de Deus,
Amanhã virá belo, novamente,

Satisfazer o corpo, os olhos teus...
Se, por acaso, o Sol brilhante e quente,
Tardar a vir, caso o frio te adoente,
Vem buscar o calor nos braços meus.

Se eu estiver distante, fecha os olhos;
Pensa em meu ser, não durmas preocupado,
Pois, já assim, estarás longe de escolhos.

E, se insistir o frio, atormentando,
Abre os teus olhos, olha do teu lado,
Que estarei, docemente, te abraçando...



Victória Freitas
Lembranças (16-12-2010)

Faz horas... Tento, em vão, criar perfeitos
Versos, para depois enviar a ti.
Perdi-me em pensamentos, revivi
Nossos momentos, beijos doces, jeitos...

Lembrei do teu Amor nos versos feitos,
Os mais belos que com meus olhos vi;
E aquela saudade outra vez senti
Apertar bem no fundo do meu peito...

Vagueei pelas lembranças, vi do abraço
Tímido entre vontades escondidas
Até a intimidade criar raízes

De onde nascerão flores, que refaço,
Florescendo por cima das feridas,
Curando-as, sem deixar nem cicatrizes...


Victória Freitas
Outro (11-12-2010)

Em mim só teu olhar triste, descrente
Do Amor que a ti jurei, puro e sem jeito.
"Para sempre", o que eu disse, o tom perfeito...
E, hoje, tu ouviste um canto diferente.

Pela vida encontramos tanta gente,
Pr'a cada qualidade, um vil defeito...
Amar-te foi dizer, então, que aceito
Teus passos, mesmo errantes, indo em frente.

Não quis pensar mais nada além de nós,
Vivendo, envelhecendo os dois, a sós...
Sem mais ninguém, sem todo aquele medo.

Ainda te amo e sei o quanto choras,
Mas tu matavas-me por tantas horas
E eu não queria, amor, morrer tão cedo...

Victória Freitas
Fim (23-10-2010)

Desgarra minha mão e vai-te embora.
Tu não mereces mais o meu Amor,
Que ama, vive, sente, cuida, chora...
Que estava a cultivar imensa Dor.

E tu, que nunca deste algum valor,
Sempre a mentir, desde a formosa aurora,
Tantas promessas falhas, tanto agror,
Até o poente desse "Amor", o agora.

Guarda tanta mentira, tanto engano...
Aproveita esse teu Amor cigano
E vai por outra estrada, algum deserto...

É o último soneto a ti escrito...
Vai se acabando como um forte grito
Que ecoa inda, mas chega ao fim, decerto.

Victória Freitas
Recomeço (28-09-10)

Igual ao de quaisquer outros amantes
O começo ideal, doces sorrisos...
E tu me prometias paraísos,
Eu jurava algo bem melhor que antes...

Foi quando em meio a notas dissonantes,
Separaram-se os dedos indecisos...
Mas com os corações inda indivisos,
Voltamos ao caminho, confiantes

Em apagar meus medos e teus medos,
Esquecer esse tempo dolorido...
Que o dulçor do começo em dobro volte.

Entrelaça teus dedos nos meus dedos...
Pega outra vez a minha mão, querido.
Segura firme e nunca mais a solte!


Victória Freitas
Teatral (27-09-2010)

"Serve-me com dois dedos de veneno:
O suficiente para ser mortal...
Pois o céu claro, um tanto até sereno,
Tingiu-se em tons de um negro colossal.

Pois, para acompanhar, vinho chileno...
Meu último prazer, último mal.
Quero encenar o ato mais obsceno,
Espetáculo ingênuo, mas brutal...

Acorda do teu sono e vem me ver
Morrendo pelo amor que não me tens.
Vais aplaudir a triste encenação;

Ver, satisfeito, o corpo perecer
Pelo punhal guardado entre teus bens,
Fadado a penetrar meu coração."

Victória Freitas
(04-09-2010)

"Tu és tão linda e és de Amor tão cheia;
És quem a muito tempo eu esperava;
Fizeste-me esquecer quem me matava;
Trouxeste o riso, o Amor que me rodeia;

Qualquer outra mulher tornas tão feia;
A cor de teus vestidos me bastava;
E quando teu cabelo se soltava
Sentia arder em mim cada uma veia."

Palavras, só palavras esquecidas
No meio de outras mil palavras lidas
Silenciosamente no teu canto...

E ouço, o teu pensamento inda murmura
Outras palavras, brutas, com bravura:
"Usei-te, agora vai... Chorar teu pranto!"

Victória Freitas
(31-08-2010)

Com lágrimas nos olhos mando embora
O Amor maior que tenho em minha vida.
Sinto abrir no meu peito uma ferida
Abrindo e ardendo mais a cada hora...

Saber que ele me ama e que ele chora
Saudades que eu plantei ainda querida
E amada, faz doer mais, sem medida,
E cresce e vai crescendo e me apavora.

Não sei mais comandar meu sentimento,
Não sei como jogar o Amor ao vento,
Não sei o que fazer... Que faço agora?

Meu coração se torna mais sangrento
Porque há em mim enorme sofrimento
Por ter tão forte Amor que inda em mim mora.

Victória Freitas
(20-08-2010)

Quando te via só, com teu cigarro
A fomentar o corpo teu, sedento,
Eu, na janela, a chalrear co' vento,
Imaginava em tua boca o sarro

Viscoso, fétido, tal como o escarro...
Mas, inda assim, meu fervoroso intento
Não se aquietava nunca no momento
Que se passava a história que a ti narro...

Aquele objeto ardia no lugar
Onde meu beijo ansiava por estar
Inda que os olhos teus me não soubessem...

Então não julgues mal meu medo incerto
De que essa coisa vil chegue mais perto
Tomando os beijos que me tanto aquecem.

Victória Freitas
Enedina II (10-08-2010)

Eras conhecedora dos segredos
Mais íntimos presentes na Natura,
Com eles tu saravas a feitura
Dos desditosos males e vãos medos.

E tu curavas tudo com teus dedos,
Pois aprendeste a modelar a cura
Para reconstruir a alma pura
Que nos abandonado havia em quedos

Passos lentos, traindo-nos amiúde.
E tu, que devolvias-nos saúde,
Tiveste a tua doce paz roubada

Por uma pedra vil, pontiaguda...
E a lágrima que tu choraste muda
Tomou meu rosto ao seres enterrada.

Victória Freitas
Estranha (07-06-10)

Sei que sentes no peito um gosto amargo,
Porque tentaste alçar vôo e pesadas
Sentiste as fracas asas enxarcadas
De tantas lágrimas; teu triste embargo!

Como se ouvisses um obscuro Largo,
Tocado ao longe, triste nas passadas,
Com duvidosos tons, notas erradas,
Transformaste teu corpo mais letargo.


Sinto, mas tanta força em mim não tenho
Para abrir mão do meu maior Amor;
Não te enraiveças com meu não empenho.

Desafinaste as notas do teu canto...
Não posso agir, tão cega, a teu favor
Para acudir tua dor e arder-me em pranto.


Victória Freitas
"...Vigiai-vos de vós, não vos vejais,
Fugi das fontes: lembre-vos Narciso." [L.V. Camões]

Havia um sábio no alto da colina
Que a todos, sem receio, respondia
Milhares de perguntas. Sua rotina
Era, enfim, ensiná-los com maestria.

Certa vez, viu ao longe uma menina.
Para o rumo do sábio ela seguia,
Rasgando as frias vestes da neblina.
Testar dele o saber ela queria...

Nas mãos, ela escondia um passarinho;
Pensando em perguntar se estava vivo
Este ser que encontrara em algum ninho,

Esmagando-o até a morte, ouvisse um "sim"...
Ouvindo-a, disse à moça de ar altivo:
"Está em tuas mãos o incerto fim".


Victória Freitas
O que vem atrás dos sonhos (12-05-10)

Em seu escuro antro ornamentado,
Prepara a areia fina e rutilante.
Tomando seu aspecto vigilante,
Sai noite adentro e vai sempre acordado.

Assim que encontra um ser apaixonado,
Atira a areia aos olhos num rompante.
E, então, tomando a forma de um amante,
Nos sonhos dele surge. Insaciado,

Mais um corpo indefeso ele procura;
Deseja o ser, cuja alma é a mais dura,
Para, através do sonho, o libertar.

Sonolentos mortais, quando estão tontos
De sono e para o sonho já estão prontos,
É Morfeu, ajudando-os a sonhar.

Victória Freitas
A outra face (05-05-10)

Deixaste-me sozinha, sem saída.
De companhia nada, solidão...
Prometeste curar meu coração,
Mas sinto nele a dor de uma vida.

Minh'alma está sangrando, está ferida...
Sei que haverá pedidos meus em vão;
Pedir-te-ei um beijo e dirás "não".
Então viverei só, co' alma sofrida.

Disseste que me amavas. Eu não via.
Pedias minha crença em teu "Amor"...
Amavas-me de noite, pelo dia

Tu me mostravas outra de tuas faces,
A face entorpecida de rancor...
Nunca seria assim, se tu me amasses.

Victória Freitas
In Memoriam (16-04-10)

Vejo que tens no olhar teu arrependimento...
Cuida p'ra que essa dor não tome o teu inteiro.
Sabes bem que esperar transforma em passageiro
Qualquer mal, qualquer dano... Espera. Teu tormento

Não passará de pó lançado pelo vento...
E enfim descansarás, oh, pobre cavalheiro...
Verás que quando acaba um triste nevoeiro,
Tua alma ri de tudo o que foi sofrimento.

Lembranças voltarão a encher tua fraca mente;
Tu lembrarás do tempo em que ficaste ausente;
Perceberás que não fizeste a escolha certa...

Não mais encontrarás a porta entreaberta
E logo, arrependido, irás pedir perdão
Onde teus pés jamais outra vez pisarão.

Victória Freitas
Estelar (31-03-10)

Por um segundo inteiro contemplei
A cadência da estrela que passava...
Brilhava, sem pudor, como brilhava!
Com um olhar tranquilo eu a fitei.

Fiz um pedido em vão, pois desejei
Viajar naquela estrela que eu olhava...
Eu conseguia ouvi-la; me falava
Os segredos do céu, então fiquei

A olhar... A olhar por mais meio segundo...
Quase o tempo parou, como se o mundo
Não tivesse mais nada além da estrela.

Sumia aos poucos, não pude mais vê-la...
Naquele instante eu quis saber voar
E, como a estrela, me desintegrar...

Victória Freitas
A sete chaves (26-03-10)

O momento foi nosso, teu e meu
Apenas, e de mais ninguém, amor...
Lembranças bem guardadas no interior
De nossos corpos do que aconteceu.

Cada detalhe, desde o riso teu
Até o respingar da chuva; o alvor
Da luz amarelada; o teu labor
Para encontrar a chave em meio ao breu...

Pude ouvir-te ofegante a procurar
Por algo que não vais nunca encontrar:
A chave para abrir meu coração.

Deixa de lado tal preocupação...
Pára co' esta procura e este insistir,
Do meu coração tu não vais sair!

Victória Freitas
A cartomante (15-02-10)

Embaralhava as cartas sem saber
O que esperar de tarde tão bucólica...
Vivia sempre triste, melancólica;
Não via ser capaz de se esconder...

Crispando forte os punhos, pôde ver
Na mesa aquela carta diabólica
Lembrou-se da incessante e forte cólica
Que antes julgava um mal. Quis dela ter

Outra vez o sabor agudo. Tal
Que assolava as entranhas do seu corpo...
Na sua frente (agora sim!) o mal.

Não queria ser dona da má sorte
Que em si destrói qualquer um anticorpo,
Mas agora fitava o olhar da morte...

Victória Freitas
O anjo (15-02-2010)

N'outro dia esvaziei meu pensamento...
Tirei dali vontades, planos, versos,
Todos os bens que estavam lá submersos,
Para acalmar meu peito do tormento.

E vendo a distração desse momento,
Um anjo de alma e peito tão abstersos
(Por vezes viu amores vis, perversos;
E assim provou o maçante sofrimento)

Se aproximou. Sentiu meu coração
Sangrar quando o tomou em sua mão,
Mas fez logo estancar o sangramento...

No pensamento meu já bem vazio
O anjo entrou, de lá não mais saiu...
Deixá-lo ali pra sempre é meu intento.

Victória Freitas
Incipiente amor

Se viver na obstinada depressão
Me deixa adoentada e infeliz,
Quero ignorar essa doença altriz
E estorvar o extermínio da paixão

Que sinto. Assim, aceita a condição
Do ser apaixonado que a ti diz:
Em matéria de amor sou aprendiz,
Mas quero que me ensines na união

Que há de nos transformar em um só ser.
Contigo, amor, meu corpo quer viver...
Essa vontade faz-se perceptível

Em cada beijo que dou, co' alegria
Nos teus lábios. Desejo que algum dia
Possa eu dar-te o maior amor possível!
Victória Freitas
On the road II (29.12.09) Brasília/São Francisco

A noite escura de antes era o plano
De fundo para os versos que escrevia...
O sol depois mostrava uma magia
Aos meus olhos, tapados por um pano.

A estrada nova encena um ato insano
Cujo cenário é o sol, é o claro, é o dia...
Em meio a essa carência de alegria,
Respira o entardecer do velho ano.

Num pedaço da viagem vejo o asfalto
Segurando bem firme com a mão
O início incerto da estrada de chão.

As nuvens cospem água lá do alto
E nada mais eu sei sentir, senão
A permanente dor de uma paixão.

Victória Freitas
Iracema (17.12.09)

As madeixas vermelhas quase gritam
Poemas e canções harmoniosas.
Exalam sutilmente versos, prosas,
Que outras madeixas nem sequer imitam...

Essas madeixas que estes versos citam
Revelam mais beleza do que as rosas,
Que se tornam bastante vergonhosas;
Se chegam perto delas, sim, se agitam.

A moça, dona dos fios afogueados,
É também tão bonita por inteiro...
Mesmo depois que tudo é costumeiro.

Pois o costume, às vezes, faz cansados
Os que provam da sua vil rotina;
Nada que tire a graça da menina...

Victória Freitas

Esperar (05.12.09)

Ah, verbo impiedoso que perjuro.
Amargo, só o tempo o faz parar...
Não basta a ti, senhor, ter meu futuro
Fadado a esperar por teu olhar?

Tal verbo é tão cruel, desprezo puro.
É frio, intolerante, dói pensar...
Se nada deve ser tão prematuro,
Não deve então viver por esperar.

Que verbo vil, não viste? Eu o condeno.
Se ainda não consegues enxergar
A qual altura alcança tal veneno,

Veja os dois lados mais indelicados:
Esperar teu amor desabrochar;
E esquecer os amores já passados.

Victória Freitas
Correspondência (09.08.09)

Versos compostos de verdade crua
E hábitos que outrora eu não tivera.
Se peço algum desejo àquela lua,
É pra rever você na primavera.

Lembro-me de uma noite escura e nua;
Feliz estava ali, também pudera.
Eu tomo a paciência, que é tão sua,
Tentando acalentar tão vasta espera.

Senti-me aliviada ao perceber
O meu carinho ser correspondido
E, de igual forma, o medo a percorrer.

E quão desordenado o meu recorte
De frases pra despir o escondido:
O amor que, de tão velho, fez-se forte.

Victória Freitas